Foi preciso chegar à idade adulta, como mulher-mãe, para perceber que essa Ísis criança ainda existe dentro de mim — e é uma líder nata que muito me ajuda com os meus filhos. Por isso, começo por levar-te até à Beira Interior…
Quem nasceu, viveu ou já cirandou pelo interior de Portugal, aqui ou ali lhe apanhou peculiaridades tão próprias quanto, por vezes, estranhas e divertidas. Dessas, eu lembro-me especialmente da resina dos pinheiros que se colava aos dedos e à roupa quando me aventurava em longos passeios no pinhal, onde apanhava pinhas e paus pequenos, acompanhada pela música do “trilitar” da caruma seca caída no solo. Cada passo que os meus pequenos pés davam eram denunciados. Ficava fascinada com o cantar dos pássaros e com o sol em contra-luz que atingia as agulhas dos pinheiros e aquecia-me a alma.
Mesmo após todas as advertências do meu pai e da minha mãe, e sabendo que ia ficar toda pegajosa, eu assumia os riscos pois adorava brincar com aquela substância pegajosa e de cheiro intenso. Sabia das consequências a curto prazo, mas eu não me importava porque sentia que estava sempre a aprender algo novo e divertia-me a fazer isso.
Aquela coragem nata, esse espírito mais ousado, confiante e aventureiro começou a ficar meio adormecido ao longo dos anos seguintes — em parte, fruto dos padrões e regras onde eu inconscientemente procurava encaixar-me para ser aceite…
A minha primeira grande prova de resiliência e superação foi quando, aos 17 anos, entrei para a faculdade, fiz as malas e fui para a capital estudar. Um mundo novo à minha frente, com novos cheiros, novos sons e novas pessoas. Senti várias vezes que aquele não era o meu lugar, faziam-me falta as raízes, pensei voltar para os braços dos meus pais, ao ninho, ao que me era familiar.
Após essa fase mais conturbada e turbulenta, comecei a ficar mais alinhada e a criar novas raízes, cada vez mais fortes e profundas. Pela capital fiquei, até hoje.
Desde sempre que adoro pessoas e fascina-me a individualidade e a história que cada uma tem para contar. Quis ser psicóloga, jornalista, trabalhar em marketing e comunicação, mas foi como consultora comercial, muito orientada para objetivos e resultados, que me senti mais conquistada na hora de ingressar no mercado de trabalho.
Nos 13 anos seguintes, desenvolvi a minha vida profissional num registo em que os dias eram longos e não havia relógio.
Trabalhei numa empresa multinacional, o que me deu a possibilidade de desenvolver competências de gestão de recursos humanos e liderança, com foco no sector comercial e operacional.
Com o nascimento do meu primeiro filho, várias mudanças profundas aconteceram e senti que o que me tinha trazido até ali já não era o que me ia levar para mais longe. Apesar de eu ter um ordenado confortável, e uma posição com reconhecimento dentro da empresa, estavam reunidas as condições para um fecho de um ciclo e um adeus amigável.
Os anos seguintes foram um misto de saborear a vida com tempo de qualidade para mim e para os meus, mas, ao mesmo tempo, acompanhada pela dúvida e pela incerteza da mudança. Ia colocando muita coisa em causa, o que me levou a procurar novos caminhos e comecei a interessar-me ainda mais por temáticas de desenvolvimento pessoal.
Investi bastante em formações e certificações, como Coaching e Programação Neurolinguística, como algo que potencia a autodescoberta. Queria encontrar respostas.
Em simultâneo, estava muito empenhada no meu papel de ser uma melhor mãe e, na busca de um manual com técnicas e ferramentas, fui fazer uma certificação como facilitadora de Parentalidade Consciente.
Acredito que cada um vive determinada aprendizagem e conhecimento à sua maneira, mas, para mim, este foi um marco onde ganhei uma profunda consciência de que estava a ‘trabalhar-me’ em quase 3 direções/dimensões.
– Passado: Olhar para a minha criança interior, nutri-la e acolhê-la, olhar para os meus pais e antepassados com aceitação.
– Presente: O autoconhecimento (padrões e crenças), um enraizamento poderoso, o que quero manter o que quero fazer diferente, ser líder da minha vida.
– Futuro: Deixar um legado, descendência, os meus filhos, como quero ser recordada.
Neste processo desconstrui muitos padrões que já não me serviam, eliminei muitas crenças que me limitavam e descobri que a vida se abria para mim em algo incrível que me estava a ser dado ao decidir escolher este caminho da parentalidade. Uma grande transformação na forma como me relaciono comigo, com quem está à minha volta e em particular com os meus filhos acontecia.
E aquela Ísis que ficava pegajosa de resina, assumindo os riscos, mas feliz, regressava.
Passei a ser a líder da minha vida, a agir com foco na marca que quero deixar nos outros. E tem sido incrível! Se geri tempo, geri pessoas, geri objetivos e geri processos… agora trago tudo isso para outra dimensão. Apoio quem quer um dia ser líder na sua vida pessoal e parental e ajudo nessa viagem de autoconhecimento, empoderamento, conexão e autovalorização. Porque eu própria já passei por tudo isso!
Acredito que em cada pessoa há um líder, alguém que guia, acompanha, está lá para si e para os outros. Mas, para encontrá-lo, todos nós precisamos de redescobrir primeiro a nossa criança interior.
E a parentalidade pode ser um grande caminho nesse empoderamento. Mostra-me todos os dias trilhos incríveis para uma beleza crua, real, autêntica, repleta de verdade e de inteireza. Basta estar presente.
Obrigada por teres lido a minha história.
Um abraço,
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